Como uma síntese de experiência, Confúcio disse: "O mundo tem um caminho, mas as pessoas comuns não discutem". Na minha opinião, essa frase deve ser entendida ao contrário. Quando as discussões públicas aumentam, nem sempre é um progresso social, mas sim um aumento na incerteza do futuro.
Neste mundo em que as discussões públicas estão aumentando sem precedentes, o que as pessoas estão preocupadas? Sentado sob o sol das três da tarde em Sydney, observo os cães correndo pelo pequeno jardim, e vejo múltiplas realidades se desdobrando diante dos meus olhos. Uma é a realidade histórica, conceitual e pesada das notícias, enquanto a outra é a realidade sob o sol, com céu azul e nuvens brancas, lavada pela chuva.
Eu sei que tudo está acontecendo, as guerras distantes, a morte, as cadeias de suprimentos, as borboletas batendo suas asas freneticamente.
Todos ouvem a dualidade da realidade, mas o peso dessas duas realidades pode variar, precisando ser remodelado na memória para torná-las mais vívidas.
Enquanto Peixoto copiava os livros de contabilidade, em sua mente se desdobravam o convés pintado, o navio navegando ao longe e a porta da sala de caldeiras. O destino do contador era uma folha de papel gigante, um prisioneiro entre as células do livro, mas o Sr. V ainda tinha a imaginação de uma viagem distante em seu navio e a borboleta de um jardim fictício.
O que significa ter duas realidades? Eu costumo pensar que a reflexão deve ser colocada em relação à vida cotidiana.
Usando as palavras de Scott Jame, há uma diferença entre um discurso oculto e um discurso público.
A atuação de uma pessoa na vida cotidiana muitas vezes desdobra-se em dois roteiros ao mesmo tempo. Duas realidades estão acontecendo simultaneamente. O significado final de uma mesma frase ou ação não é definido pelo ator, e até mesmo a pessoa que vive nessa realidade pode se enganar em suas decisões.
A vida real é ainda mais fascinante do que o gato de Schrödinger, cuja vida ou morte só é decidida após a observação. Nessa dualidade da realidade, até mesmo o ator não sabe em qual realidade está. Ambas são tangíveis, e no final, em nossas memórias, nós as processamos, defendemos nossa existência e decidimos qual é a realidade que precisamos.
Essa é a dualidade da realidade, o reflexo invertido no abismo.